👨🏾💻 Mundo Negro #004 | As 5 notícias que marcaram a semana
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Adolescência: estudantes negros e o retrato de uma escola que adoece
O caos das escolas públicas foi um dos vários incômodos que senti assistindo à série Adolescência, sucesso de crítica e audiência exibido pela Netflix. Em especial no segundo episódio, que se passa quase inteiramente dentro de uma escola, é quase claustrofóbico observar tantos jovens em um ambiente cinza — no sentido real e também metafórico.
A violência verbal parece naturalizada; há falta de comprometimento por parte de alguns professores, reflexo de baixos salários; o bullying acontece diante de alunos e coordenadores que nada fazem. E, após o assassinato de Katie, a rotina seguiu como se nada tivesse acontecido, revelando uma brutalidade já normalizada.
O luto se fez presente apenas na figura de Jade (Fatima Bojang), melhor amiga da vítima.
Casal é condenado a 375 anos por escravizar filhos negros em fazenda nos EUA
Um casal branco foi condenado a um total de 375 anos de prisão por submeter seus cinco filhos negros a trabalho forçado em uma fazenda, nos Estados Unidos, além de agressões físicas e psicológicas marcadas por insultos raciais. Jeanne Kay Whitefeather, 62, recebeu 215 anos de prisão, e seu marido, Donald Lantz, 63, foi sentenciado a 160 anos — as penas máximas possíveis.
A sentença foi proferida na semana passada pela juíza Maryclaire Akers, do Tribunal do Condado de Kanawha, após o casal ser considerado culpado, em janeiro, por trabalho forçado, tráfico de pessoas, abuso infantil e violação de direitos civis com motivação racial: "Vocês trouxeram essas crianças para a Virgínia Ocidental, um lugar que eu chamo de 'Quase Paraíso', e as colocaram no inferno. Este tribunal agora vai colocá-los no seu", declarou a juíza, acrescentando: "Que Deus tenha misericórdia de suas almas. Porque este tribunal não terá."
O casal adotou as cinco crianças em Minnesota e, após passarem por uma fazenda no estado de Washington, mudaram-se para Sissonville em maio de 2023. Em outubro do mesmo ano, vizinhos alertaram as autoridades ao verem dois adolescentes trancados em um galpão. Ao chegarem, os agentes encontraram as crianças em condições insalubres: dormindo no chão, usando baldes como banheiros e com sinais de desnutrição.
Sete gerações: Mulheres negras podem levar até 184 anos para comprar casa própria, aponta estudo
Um estudo inédito da ONG Habitat para a Humanidade Brasil revela que mulheres negras podem demorar até 184 anos — o equivalente a sete gerações — para conseguir comprar uma casa própria no país, mesmo em favelas. O dado integra a campanha "Sem moradia digna, não há futuro", que denuncia como a falta de acesso à habitação adequada reforça desigualdades de gênero e raça, mantendo ciclos de pobreza e violência.
O levantamento "Sem moradia digna, não há justiça de gênero", baseado em dados coletados ao longo de cinco anos, mostra que 62,6% dos lares em situação de déficit habitacional — que chega a 6,2 milhões de domicílios — são chefiados por mulheres. Outros 26,5 milhões enfrentam inadequações, como falta de infraestrutura ou insegurança fundiária, segundo a Fundação João Pinheiro.
Com salários menores e jornadas sobrecarregadas por trabalhos mal remunerados e cuidados não pagos, as mulheres destinam, em média, 30% da renda ao aluguel. Em um cenário considerado "favorável" pelo estudo — sem imprevistos, lazer ou gastos extras —, uma mulher negra com renda média de R$ 2.745,76 (RAIS 2023) teria apenas R$ 31,62 mensais para economizar. Nesse ritmo, levaria 184 anos para adquirir um imóvel de R$ 69.828,57 (valor médio em favelas).
PM que atirou em Igor Melo é indiciado por duas tentativas de homicídio
A Polícia Civil do Rio de Janeiro indiciou e solicitou à Justiça a prisão do policial militar da reserva Carlos Alberto de Jesus, por duas tentativas de homicídio contra o jornalista Igor Melo de Carvalho e o motociclista Thiago Marques Gonçalves. O caso ocorreu há um mês.
A esposa do ex-PM, Josilene da Silva Souza, foi indiciada por falso testemunho majorado — quando há intenção deliberada de influenciar o processo com informações falsas.
O episódio teve início na noite de 23 de fevereiro, quando Josilene, que é cabeleireira, teve o celular roubado na Penha, zona norte do Rio, por volta das 23h. Cerca de duas horas depois, no mesmo bairro, apontou ao marido dois homens que, segundo ela, tinham características semelhantes às dos assaltantes.
Crânio de líder da Revolta dos Malês exposto em museu de Harvard deve ser devolvido ao Brasil
O crânio de um dos líderes da Revolta dos Malês, levado ilegalmente para os Estados Unidos há 190 anos, pode ser repatriado ao Brasil ainda em 2025. O objeto, que integra a coleção do Museu Peabody, da Universidade de Harvard, é alvo de negociações entre o governo brasileiro, pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e o Centro Cultural Islâmico da Bahia (CCIB). A devolução do crânio, considerado um patrimônio histórico e simbólico da luta negra e islâmica no país, ocorreria durante as celebrações dos 190 anos da revolta, um dos maiores levantes de pessoas escravizadas nas Américas.
A Revolta dos Malês, ocorrida em Salvador (BA) nos dias 24 e 25 de janeiro de 1835, foi um movimento organizado majoritariamente por negros muçulmanos, muitos deles alfabetizados em árabe. O termo "malê" deriva da palavra iorubá "imalê", que significa "muçulmano". A revolta, inspirada na Revolução Haitiana, buscava a libertação do povo negro e a independência do jugo colonial. Apesar de reprimida violentamente, o levante deixou um legado de resistência e luta pela liberdade que ecoa até os dias atuais.
O crânio em questão pertenceu a um dos líderes da revolta, cuja identidade ainda não foi totalmente esclarecida. Ele foi roubado do Brasil por Gideon Theodore Snow, um diplomata americano que atuou como vice-cônsul em Alagoas e cônsul em Pernambuco na década de 1840. Snow entregou o crânio ao Museu Peabody, onde permanece exposto como parte de uma coleção que inclui restos mortais de cerca de 19 indivíduos escravizados no Brasil e no Caribe, além de milhares de nativos americanos, que foram utilizados como 'objeto de pesquisa' de eugenistas.
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